Inicio da
primavera de 1992, Eu e o Herbert partimos do Rio para Petrópolis, mais
precisamente para o Vale do Bonfim para realizar uma linda aventura até os
Castelos do Açú no Parque Nacional da Serra dos Órgãos(PARNASO). No Parque a
vegetação predominante é a de Mata Atlântica, onde encontram espécies raras de
árvores e por onde circulam diversos representantes da fauna brasileira, como
quatis, pacas, macacos e aves. Rios e cachoeiras descem a montanha coberta pela
mata tropical com ótimas oportunidades para um banho refrescante e observação
privilegiada de uma flora rica em bromélias e orquídeas. Pela noite, a
observação das estrelas e nebulosas torna-se a atividade mais encantadora. O
cume situado a 2245m de altitude e com um percurso de pouco mais de 7Km, dura
aproximadamente 6 horas para um montanhista médio atingi-lo, sendo esta
caminhada considerada pesada devido a grande variação altitudinal. Estacionamos
o carro próximo a Pousada Cabanas do Açu e caminhamos um pequeno trecho até a
portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos situado a uma altitude de
1100m, onde realizamos a parte burocrática para entrada, como pagamento e
assinatura do termo de responsabilidade. Começamos efetivamente a caminhada as
9:00h e após cerca de 1:00h chegamos ao local onde existe uma entrada a
esquerda para a Gruta do Presidente e a Cachoeira Véu da Noiva. Seguimos em
frente e subimos uma trilha em zig-zag bastante íngrime e descampada, com muito
capim gordura até chegarmos a
grande Pedra do Queijo, um bom local para descansar, lanchar e de quebra curtir
uma bela vista panorâmica de todo Vale do Bonfim com destaque para a Pedra do
Cone e os picos do Alcobaça, do Alicate e outras montanhas de Petrópolis.
Depois do Queijo a subida continua e depois desce um pouco até o Morro das
Samambaias, que é marcado pela única árvore existente neste trecho. Continuamos
na trilha e após mais de 50 min de subida chegamos à nascente do Ájax, um ponto
obrigatório para a coleta de água, pois é o último local com fonte de água
antes do Açu. Atualmente o acampamento neste local é proibido, mas na época de
nossa passagem por alí era permitido. Após a passagem pelo Ajax iniciamos o
trecho de subida mais íngreme de toda caminhada, conhecido como Isabeloca, em
homenagem a princesa Isabel que supostamente teria passado pelo local em lombo
de mulas ou costumava caçar Capivaras nessa região, e quando os escravos a
viam, comentavam entre eles: “Lá vem a “Isabeloca”. Ao fim da Isabeloca
chegamos a um imenso Chapadão, de onde se avista a Pedra do Açu e o pico do
Cruzeiro, seguimos para a esquerda num trecho mais plano, formado por campos de
altitude e lages de pedra que se fazem presentes até a chegada aos Castelos do
Açú. Este trecho é caracterizado pela presença de marcos feitos com pilhas de
pedras e setas desenhadas no chão. A região é costumeiramente dominada por
densos nevoeiros que escondem os marcos com facilidade e para quem não conhece
a região e se orienta apenas por relatos é a primeira área onde é possível se
perder, por isso todo cuidado é pouco. Caminhamos um pouco mais até chegarmos
ao nosso objetivo, os Castelos do Açu que são formações rochosas no cume da
montanha, revelando um ambiente místico e ao mesmo tempo um visual
indescritível da Baía da Guanabara, do Dedo de Deus, Pedra do Sino, Garrafão,
Escalavrado, entre outros. Com tempo bom é possível avistar o Pão de Açucar, o
Corcovado e a Pedra da Gávea na Cidade do Rio de Janeiro.Nessa interessante
formação rochosa, cheia de reentrâncias é possível se abrigar do frio, da chuva
e do vento. Muitos acampam neste lugar, pois é o ponto recomendado para
pernoite, principalmente para quem faz a Travessia Petrópolis x Teresópolis. No
local existem dois abrigos rudimentares construídos com pedras empilhadas por
antigos montanhistas. Recentemente foi construído um abrigo idêntico ao
existente próximo à Pedra do Sino. Um pouco mais a frente dos Castelos
encontramos o Pico da Cruz que é o segundo ponto culminante do parque, a cruz
que foi colocada na montanha é uma homenagem a um grupo de montanhistas mortos
em uma tempestade elétrica no ano de 1992, e é deste ponto de onde normalmente
se admira o pôr do sol. Exploramos bastante a área ao redor dos Castelos e por
volta das 14:00h iniciamos o retorno, chegando ao estacionamento cerca de 4h
depois, já quase escuro, e muito feliz por ter conseguido mais uma conquista de
uma das mais belas montanhas da região. Gente vale muito, mais muito mesmo
conhecer o monumental e lindo Castelos do Açu.
Depois de muito tempo caminhando e explorando as montanhas que tanto admiro, e após muitas aventuras perambulando por este país gigante e também por outras partes do mundo, resolvi contar aqui as histórias e curiosidades das trilhas realizadas por mim até hoje. Descrevê-las pra mim é um grande prazer, pois além de recordar cada detalhe e sentir plenamente o contato mais íntimo com a Mãe Natureza, sinto novamente as mesmas sensações de quando as realizei pela primeira vez. Valdir Neves